O comércio em um dos acessos à comunidade do Jacarezinho: favela da Zona Norte se expandiu na esteira da industrialização da região, hoje ec...
O comércio em um dos acessos à comunidade do Jacarezinho: favela da Zona Norte se expandiu na esteira da industrialização da região, hoje economicamente decadente Foto: Brenno Carvalho / Agência O Globo.
Abandono do Estado nas duas comunidades agravou vulnerabilidades que vão muito além da segurança pública.
RIO — Jacarezinho e Muzema, primeiras comunidades a receber o programa Cidade Integrada, do governo do Rio, têm históricos de ocupação bem diferentes: a da Zona Norte remonta à primeira metade do século passado, com a expansão impulsionada pela industrialização do entorno; e a da Zona Oeste explodiu, de fato, nas últimas décadas, nas franjas de uma Barra da Tijuca geradora de empregos e com a voracidade do mercado imobiliário ilegal das milícias. Em ambas, o abandono do Estado agravou vulnerabilidades que vão muito além da segurança pública e que, se afetam intrinsecamente a vida de seus moradores, geram consequências que extrapolam os limites das duas favelas, em processos (distintos, é verdade) que refletem nos bairros vizinho.
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Agora, se promete, novamente, reverter esse quadro. Em coletiva ontem, o governador Cláudio Castro anunciou que as primeiras intervenções nas comunidades serão em saneamento e limpeza de rios. E disse que o programa só será estendido a outras comunidades quando estiverem comprovados resultados nos dois territórios iniciais do projeto. Dentro e fora das duas favelas, expectativas e uma certa descrença se misturam.
É o que ocorre em Higienópolis, bairro perto do Jacarezinho que já foi conhecido como “Pérola da Leopoldina”, com suas casas amplas e vistosas. Hoje, não escapa de uma desvalorização que atinge também áreas próximas, como Maria da Graça, onde os moradores, nos últimos anos, viram a formação de cracolândias e se perceberam acuados pela violência — que nem de longe, no entanto, se parece com a presença do tráfico armado e com as incursões da polícia impostas a quem vive na favela. Ali, são os assaltos que mais intimidam, como o vivido pela família do arquiteto Luiz Henrique Carvalho, de 46 anos:
— Minha mãe foi feita de refém em casa. Tivemos que instalar câmeras e rede de arame farpado. É triste ver vizinhos e amigos de uma vida indo embora por conta da violência.
Enquanto isso, os anúncios de venda de imóveis se multiplicam. Na Rua Santa Mariana, há alguns que permanecem expostos há cinco anos.
— Essa casa está desde 2016 à venda. O preço caiu 20%, e ninguém quer. Além do mais, a região sofre com alagamentos. Vivemos uma decadência profunda — diz o pedreiro Adailton Alves, de 55 anos.
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Uma amostra do que ele relata se revela no mercado imobiliário. Levantamento do Secovi Rio aponta que, entre o fim de 2012 e o de 2014, Higienópolis, Maria da Graça, Rocha, Cachambi e Del Castilho, todos bairros próximos ao Jacarezinho, experimentaram um aumento do valor do metro quadrado ofertado para a venda de imóveis residenciais. Nesse período, em janeiro de 2013, foi instalada a Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) do Jacarezinho. Em Maria da Graça, ocorreu o maior salto: de R$ 3.336 o metro quadrado, em dezembro de 2012, para R$ 5.277, em dezembro de 2014 (aumento de 58%).
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