Unidade da Fundação Hemominas já beneficiou mais de dois mil pacientes com serviços de terapia celular, prestados para dez centros transpl...
“Comecei a ter muita fraqueza, dor no corpo, não conseguia enxergar direito e desmaiei várias vezes. Fiz exames e, depois dos resultados, tomava remédios de manhã e à noite. Trabalhava como doméstica, fazia faxina pesada, mas não estava aguentando trabalhar e, ao longo do tratamento, minha médica me alertou que em algum momento eu teria que fazer um transplante de medula”, conta a dona de casa Maria D’Ajuda Antônio, que tem 54 anos.
“Meus sete irmãos vieram fazer o teste e dois deles foram compatíveis. Agora que a medula pegou, depois de todo o processo, meu corpo está outro, sem dor. A expectativa para ir pra casa é bem alta, porque estou me sentindo muito bem, tenho ânimo e até meu sorriso é outro”, comemora ela.
Preparação
Para alterar o rumo da história da dona Maria D’Ajuda, as células do doador precisaram passar por controle de qualidade e foram feitos vários testes antes da liberação do material para a realização do transplante. Todo esse trabalho foi realizado pelo Centro de Processamento Celular, do Centro de Tecidos Biológicos (Cetebio), uma unidade da Fundação Hemominas, que atua com células e tecidos biológicos.
O Centro de Processamento Celular presta serviços de terapia celular para dez centros transplantadores conveniados da capital e do interior de Minas. Desde 2013, quando foi implantado, mais de dois mil pacientes foram beneficiados e a média mensal chega a até 30 processamentos.
Segundo o coordenador do Cetebio, André Belisário, depois dessa implantação, o processo dos transplantes foi facilitado. “Antes de termos o Centro de Processamento Celular aqui em Minas, as células precisavam ser processadas em outro estado ou o paciente precisava se deslocar, o que aumentava o custo e atrasava o processo. Com o Cetebio, além de agilidade, ganhamos em segurança do material genético”, ressalta.
No Cetebio, as células podem passar por deseritrocitação, que é a redução de células vermelhas ou hemácias antes do transplante. O material pode ser processado para uso a fresco, em até 48 horas após a coleta, ou passar pelo processo de criopreservação, que consiste no congelamento em ultrabaixa temperatura para que o paciente receba o material depois do período de tratamento.
“A maioria dos pacientes que atendemos são os que vão receber um transplante autólogo. Eles são cadastrados e chamados para realizar a coleta do material, que passa pelo controle de qualidade e por testes para ser criopreservado”, aponta o coordenador.
“Quando o paciente está pronto para o transplante, a equipe do hospital nos aciona para que seja feito o transporte das células congeladas em um recipiente específico, com nitrogênio líquido, que pode chegar até aos 150 graus negativos. As células são descongeladas na beira do leito e infundidas no paciente”, salienta.
O Cetebio também recebe material genético de doadores de outros estados e países para atender aos casos de pacientes mineiros que estejam precisando do transplante. “Fazemos o processamento e encaminhamos o material para o Centro Transplantador em que o paciente está internado. Os dez centros conveniados são, na maioria, hospitais do Sistema Único de Saúde (SUS) ou filantrópicos que prestam atendimento aos usuários do SUS”, completa Belisário.
Parceria pela vida
A médica e coordenadora do serviço de transplantes de medula óssea do Hospital das Clínicas da UFMG, Ana Karine Vieira, foi uma das profissionais que acompanhou o processo da dona Maria, desde a coleta do material genético. O HC-UFMG é um dos Centros Transplantadores de Minas e recebe pacientes de todo o estado.
“A marcação das consultas para os pacientes que precisam passar por transplantes é feita de maneira centralizada, pelo MG Transplantes. Recebemos os encaminhamentos e a primeira consulta é agendada. A partir daí, o paciente começa todo o percurso do tratamento, até chegar o dia da internação”, detalha.
“Existem dois tipos de transplante de medula óssea: autólogo, quando as células são retiradas da medula do próprio paciente para serem transplantadas posteriormente, após o tratamento, e o alogênico, quando um irmão, pai, mãe ou outro parente faz a doação”, descreve Ana Karine Vieira.
“Com a Maria D’Ajuda, foi feito o transplante alogênico, com a medula doada pelo irmão. Nesses casos, avaliamos paciente e doador e, quando os dois estão prontos, internamos para fazer o condicionamento, coletar as células e iniciar o processo”, explica a médica.
“É importante lembrar que o transplante alogênico também pode ser feito por um doador não aparentado que tenha se cadastrado no Registro Nacional de Doadores de Medula Óssea (Redome), vinculado ao Instituto Nacional do Câncer (Inca), e que tenha a compatibilidade comprovada com o paciente em questão”, destaca.
Mas o que é medula óssea?
Constituída por tecido líquido-gelatinoso, a medula óssea está no interior dos ossos e produz os componentes do sangue, incluindo as hemácias ou células vermelhas, responsáveis por transportar oxigênio na circulação, leucócitos ou células brancas, do sistema de defesa do nosso organismo, e as plaquetas, que atuam na coagulação do sangue.
O transplante de medula beneficia pacientes com produção anormal de células sanguíneas, porém, não é indicado apenas para doenças hematológicas, também atende algumas necessidades da oncologia pediátrica e de adultos, além de pacientes da imunologia e das hemoglobinopatias.
O procedimento é parecido com uma transfusão de sangue. As células são infundidas na corrente sanguínea do paciente, saem da circulação periférica e vão para dentro da medula óssea, fazendo uma reconstrução.
Para entrar na lista de espera por um órgão ou tecido, o paciente precisa ser encaminhado para um dos Centros Transplantadores do Estado, onde será submetido a vários exames e protocolos. A doação de órgãos e sua destinação para transplantes é coordenada pelo MG Transplantes, responsável pela captação e distribuição de órgãos em todo o estado.
Setembro Verde
O Dia Nacional da Doação de Órgãos é celebrado em 27 de setembro, mas durante todo o mês o Governo de Minas promove campanha de conscientização sobre a importância de doar órgãos e de informar a família sobre essa decisão.
Para ser doador de medula óssea, por exemplo, é necessário preencher o cadastro do Redome na Fundação Hemominas. Minas Gerais já cadastrou mais de 636 mil candidatos à doação de medula desde 1993, quando o registro foi criado. Em todo o país, 71.942 novos doadores foram cadastrados desde janeiro de 2024.
De acordo com o Inca, 2.589 pacientes estão inscritos no Registro Nacional de Receptores de Medula Óssea (Rereme) em Minas Gerais. De janeiro a julho de 2024, foram realizados 219 transplantes de medula óssea de doadores não aparentados no Brasil.
Para se cadastrar e ajudar a salvar vidas, é necessário atender a alguns critérios:
Ter entre 18 e 35 anos, boa saúde e não apresentar doenças como as infecciosas ou as hematológicas;
Apresentar documento oficial de identidade, com foto;
Preencher os formulários de identificação do candidato à doação de medula e o termo de consentimento.
Colher uma amostra de sangue com 5ml para testes, para fazer o exame HLA* (Antígenos Leucocitários Humanos) que irá determinar as características genéticas necessárias para a compatibilidade entre o doador e o paciente. O tipo de HLA será cadastrado no Redome.
Da redação do Portal de Notícias
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