Plantas de cobertura Construção de barraginhas e uso de plantas de cobertura do solo estão entre as recomendações da Epamig. As mudanças c...
Plantas de cobertura
Construção de barraginhas e uso de plantas de cobertura do solo estão entre as recomendações da Epamig.
As mudanças climáticas, com efeitos cada vez mais intensos, demandam ações para garantir a produção agrícola e a preservação dos recursos naturais. O setor agropecuário, em particular, tem se reinventado para assegurar a sustentabilidade no campo e a oferta regular de alimentos para a população. Neste cenário, a Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural de Minas Gerais (Emater-MG) desempenha um papel fundamental, implementando técnicas de convivência com a seca e apoiando os produtores rurais na adaptação a essa nova realidade.
“Este ano, as alterações se concentraram, principalmente, num aumento de temperatura média e num déficit hídrico. Estamos em um período que, normalmente, não chove, mas os últimos meses foram atípicos, com o solo apresentando um déficit hídrico maior devido ao aumento do calor”, explica o coordenador técnico estadual da Emater-MG, Bernadino Cangussu.
Segundo ele, a proteção do solo para recarga do lençol freático é essencial para garantir boa produção em locais com estiagens constantes. “O solo é a principal caixa de armazenamento de água que temos na propriedade”, afirma.
Uma das técnicas incentivadas pela Emater-MG é o uso de plantas de cobertura para melhorar o solo e o sistema de produção. Essas plantas não apenas evitam erosões, mas também buscam nutrientes em camadas mais profundas e aumentam a porosidade do solo, facilitando a infiltração de água.
Desde 2021, a Emater-MG já implementou cerca de 700 unidades demonstrativas com esse sistema em todo o estado. As plantas de cobertura são cultivadas em consórcio com culturas comerciais, como café, frutas e grãos. A técnica consiste em plantar uma mistura de sementes de diversas espécies, manejando-as entre as linhas de cultivo.
"As raízes das plantas de cobertura atingem diferentes profundidades, o que favorece a aeração, quebra a compactação do solo e incorpora matéria orgânica em camadas mais baixas, além de criar galerias que facilitam a infiltração de água”, explica Cangussu, coordenador técnico estadual da Emater-MG.
Ele lembra também que a palhada, que sobra após o corte das plantas de cobertura, protege e ajuda na diminuição da sua temperatura do solo.
A produtora Christina Ribeiro do Valle, do município de Guaranésia, no Sul de Minas, começou a cultivar plantas de cobertura em um cafezal há quatro anos. Ela usa capim braquiária, girassol, nabo forrageiro e milheto. Após roçadas, estas plantas ficam nas entrelinhas do café, protegendo o solo.
“Nunca mais deixo de usar plantas de cobertura. Se você colocar um termômetro no solo descoberto com um calor desses, vai marcar uns 40 graus. Com a cobertura, esta temperatura cai muito. Além disso, no período das chuvas, as plantas de cobertura têm evitado as enxurradas que iam até a estrada. Elas retêm a água”, comenta a produtora.
Outra prática disseminada pela Emater-MG é a construção de bacias de captação de água da chuva, conhecidas como ‘barraginhas’. Esses reservatórios, além de prevenir erosões causadas por enxurradas, ajudam a armazenar e infiltrar a água da chuva, recarregando o lençol freático.
Uma técnica com resultado similar é o terraceamento, popularmente chamado de ‘curva de nível’, geralmente utilizado em áreas com declive. Sua função é reduzir a velocidade das enxurradas durante o período chuvoso, facilitando a infiltração da água. “Quanto mais água armazenada no solo no período das chuvas, mais água disponível durante a estiagem”, alerta o coordenador.
Além das práticas de conservação do solo, a Emater-MG desenvolve ações contínuas nas propriedades rurais para cercamento de nascentes e recomposição das matas ciliares em rios e córregos.
Norte de Minas
A região Norte de Minas tem sido uma das mais castigadas do estado na última década, enfrentando longos períodos de estiagem. Um relatório agroclimático da Emater-MG aponta que, de janeiro a agosto deste ano, cerca de 170 mil famílias de agricultores foram diretamente afetadas pela seca. O estudo na região também identificou o secamento de mais de 300 cursos d'água, incluindo córregos, rios e reservatórios.
Como parte das ações de convivência e mitigação dos efeitos da seca, a Emater-MG está orientando mais de 50 mil produtores na produção de alimentação energética para o rebanho bovino. Entre as iniciativas, estão o plantio de forrageiras, a confecção de silagem e o incentivo ao cultivo de culturas mais adequadas à região, como sorgo forrageiro, palma, mandioca e cana-de-açúcar. Essas ações abrangem 225 municípios, incluindo os vales do Mucuri e Jequitinhonha.
Outra medida implementada nesses locais, em parceria com as prefeituras e a Secretaria de Estado de Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Seapa), foi a abertura de 8,6 mil bacias de captação de água da chuva e a construção de 257 quilômetros de terraços, nos últimos dois anos. Mais de 2 mil hectares ocupados com área de pastagem e de cultura foram conservados com as ‘curvas de nível’.
“Estimamos que esse conjunto de ações vai proporcionar a retenção e infiltração de mais de 12 milhões de metros cúbicos de água por ano”, afirma o gerente regional da Emater-MG em Montes Claros, José Arcanjo Pereira.
Ele lembra que a Emater-MG da região também apoia os produtores na obtenção de crédito rural emergencial, na orientação técnica em projetos de abastecimento de água e nas negociações com instituições financeiras.
Em janeiro de 2024, a empresa também realizou a doação de sementes de feijão para agricultores familiares afetados pela forte estiagem do ano anterior. Mais de 12 mil famílias foram beneficiadas, principalmente das regiões Norte, Noroeste e dos vales do Jequitinhonha, Mucuri e Rio Doce. Cada família recebeu dez quilos de sementes.
Balanço das queimadas
A seca prolongada, aliada ao aumento das temperaturas este ano, foi um ambiente propício para o grande número de focos de queimadas em todo o país. Um levantamento feito pela Emater-MG mostra que, de julho a setembro, o fogo atingiu 110 mil hectares de pastagens em Minas Gerais. A área representa 0,5% do total do estado ocupado com pastos.
Em relação à cana-de-açúcar, foram 50,8 mil hectares atingidos, o equivalente a 5,97% do total da cultura em Minas. O estudo mostra ainda que o fogo foi registrado em 2,1 mil hectares de café (0,26% do total) e 467 hectares de fruticultura (0,55% da área ocupada).
Já as áreas de florestas plantadas registaram 16,8 mil hectares com queimadas, o equivalente a 0,89% do total. O levantamento foi feito em 687 municípios, sendo que 447 (65,1%) registraram algum prejuízo nas atividades agropecuárias causado pelo fogo.
A Emater-MG lançou uma cartilha orientando os produtores rurais sobre os riscos das queimadas. O material alerta que o uso do fogo para qualquer tipo de manejo na propriedade só pode ser feito com a autorização de órgãos competentes. O material está disponível para consulta gratuita na Livraria Virtual, no site da empresa.
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