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Com a identificação de 939 casos positivos para o agravo em 48 municípios, os resultados do Projeto de Rastreamento da Doença de Chagas, por meio da realização de exames de Eletrocardiograma (ECG), foram apresentados no dia 5/11 aos gestores do Norte de Minas, pela Universidade Estadual de Montes Claros (Unimontes). A iniciativa ocorreu durante a realização de reunião da Comissão Intergestores Bipartite do Sistema Único de Saúde (CIB-SUS).
No Norte de Minas o Projeto começou a ser implementado em abril de 2023 na microrregião de Saúde de Monte Azul e, no segundo semestre, contemplou cinco municípios da microrregião de Saúde Coração de Jesus. Já a partir de fevereiro de 2024 a iniciativa foi adotada por outras cinco microrregiões que integram a área de atuação da Superintendência Regional de Saúde (SRS) de Montes Claros, que atuou na mobilização dos gestores para adesão à iniciativa.
O projeto, que é coordenado pelo Centro São Paulo-Minas Gerais para Tratamento da Doença de Chagas (SaMi-Trop), realiza, desde 2013, pesquisas envolvendo doenças negligenciadas. Além da Unimontes, os trabalhos envolvem profissionais da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG); Universidade Federal de São João del-Rei (UFSJ) e a Universidade de São Paulo (USP).
A doença de Chagas é transmitida por diferentes vias, sendo a vetorial a mais prevalente envolvendo espécies de triatomíneos, insetos chamados popularmente de barbeiros. Estima-se que, no mundo, entre 6 e 8 milhões de pessoas têm a doença e mais de 75 milhões moram em áreas de risco de contágio. Menos de 10% dos casos são diagnosticados precocemente e menos de 1% dos pacientes são tratados e acabam evoluindo para formas crônicas da doença, com comprometimento cardíaco e digestivo.
Ao apresentar os dados obtidos em sete microrregiões de saúde que integram a área de atuação da SRS, a professora Ariela Mota, que atua no Centro de Especialidades Ambulatoriais Tancredo Neves (Caetan), administrado pelo Hospital Universitário Clemente de Faria, sediado em Montes Claros, observou que “os indicadores de prevalência da doença de Chagas no Norte de Minas permanecem muito altos (40%), enquanto os índices em Minas Gerais são de 4%”. Na opinião da professora, “a situação exige uma atenção especial dos serviços de Atenção Primária à Saúde (APS) na identificação de pessoas com suspeitas de terem contraído a doença, bem como a realização de exames, acompanhamento e encaminhamento para tratamento especializado”.
Ainda segundo Ariela Mota, “apesar do Centro de Especialidades Ambulatoriais Tancredo Neves possuir uma força de trabalho limitada, os profissionais estão atuando para viabilizar que as pessoas diagnosticadas com Chagas tenham acesso a atendimento especializado. A fila de espera para a realização da primeira consulta no Centro de Especialidades é superior a mil pacientes, mas a prioridade de atendimento é para as pessoas diagnosticadas por meio do Projeto de Rastreamento”, observou a professora.
Os resultados dos exames realizados por meio do SaMi-Trop foram repassados para as secretarias municipais de saúde que deverão providenciar a busca ativa e o encaminhamento dos pacientes para atendimento no Caetan, sediado em prédio anexo ao Hospital Universitário Clemente de Faria.
O agendamento da consulta deve ser feito pelas secretarias municipais de saúde por meio do telefone (38) 9-9116-8346, após o município já ter viabilizado que o paciente obtenha resultado de exame de sorologia comprovada para a doença de Chagas com dois métodos IgG reagentes. Além disso, o município deverá emitir a ficha de encaminhamento do paciente e registrar o caso no sistema e-SUS Notifica.
Por sua vez Dulce Pimenta, secretária municipal de Saúde de Montes Claros e presidente regional do Conselho de Secretarias Municipais de Saúde de Minas Gerais (Cosems), reforçou a necessidade do Norte de Minas ter uma atenção especial para o enfrentamento à doença de Chagas, “uma vez que sem diagnóstico e tratamento adequado muitos pacientes já chegam nas Unidades Básicas de Saúde (UBSs) numa situação de saúde grave, problema que poderia ser evitado”.
Em Minas Gerais o projeto está previsto para ser implementado em 107 municípios sob jurisdição das Superintendências Regionais de Saúde de Montes Claros e Divinópolis.
O SaMi-Trop já publicou mais de 30 artigos científicos. Atualmente os pesquisadores pretendem aplicar os conhecimentos na identificação de metodologias e ferramentas que permitam aumentar o número de pacientes diagnosticados e a oferta de tratamento. Além disso, serão identificadas estratégias que possibilitem melhorar o acompanhamento dos pacientes e auxiliar na avaliação de novos candidatos a tratamento.
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